
Depois de quatro anos de intensas viagens experimentais – o CD e DVD Pré pós tudo bossa band, a turnê com os Mutantes e o encontro musical com Simone – Zélia Duncan está de volta com um novo álbum, chamado “Pelo sabor do gesto”.
Produzido pelo Pato Fu John Ulhoa e por Beto Villares, com quem Zélia já havia trabalhado em Sortimento, em 2001 – o 9º disco de Zélia Duncan apresenta 14 músicas, entre novas parcerias, versões e releituras.
No dia do lançamento oficial do álbum, 9 de junho, Zélia Duncan recebeu a imprensa no Parque Lage, Zona Sul do Rio de Janeiro, para falar sobre o CD, que chega ao público pela Universal Music.
Reflexo dos tempos digitais
Apaixonada pela trilha do filme Lês Chansons d’Amour, apresentado a ela pelo DJ Zé Pedro em um CD – copiado, classificado por ela como a “pirataria do bem” – Zélia Duncan converteu para o português duas composições do francês Alex Beaupain, que autorizou as versões a partir de um contato feito diretamente por ela através do My Space: “Autorização é um saco, todo mundo me dizia que era melhor não fazer. Eu sei como é chato, mas… fiz. Fiz o contato com a editora, o cara disse “ok”, mas nunca mandava a tal confirmação. Aí eu fui no My Space, procurei o autor, e a coisa passou de artista para artista. Alex, meu nome é Zélia, sou cantora e tal, e a resposta veio automaticamente” – conta.
Na primeira versão, “Boas razões”, Zélia Duncan abre os trabalhos dividindo os vocais com Fernanda Takai, num clima meio “western”, conforme definição da cantora no texto de apresentação distribuído para a imprensa; a segunda é a que dá nome ao álbum. No encarte, em uma das fotos, Zélia aparece deitada na cama com um notebook e o CD da trilha sonora do filme.
Entre as novas parcerias estão a deliciosa balada folk “Tudo sobre você”, de John e Zélia, com uma indagação perturbadora sobre o tempo: “Não sei se eu saberia chegar até o final do dia sem você”. Com Marcelo Jeneci, Zélia Duncan assina “Todos os verbos”, que fala sobre amar combinando uma sequência de conjugação de verbos: Errar, sofrer, chorar, sorrir, ver, trair, olhar, falar, calar, desfazer, esperar, refazer, abraçar, beijar, pensar, fantasiar, nascer, dar, ser, viver e morrer.
Zélia, que em seu álbum anterior dividiu com Moska o sucesso “Carne e osso”, tema da novela “Sete pecados”, repete a dose com “Sinto encanto”. Com Edu Tedeschi, apresenta “Aberto” e “Nem tudo”, e com Dante Ozzetti, “Se eu fosse”. Já com Zeca Baleiro, a combinação música / letra foi invertida em “Se um dia me quiseres”: “Zeca me mandou uma letra tão linda sem saber que eu quase não faço melodias. E eu fiz”.
Pelo sabor do gesto (foto) traz ainda uma inédita de Itamar Assumpção e Alice Ruiz, intitulada “Duas namoradas,” e três regravações: “Os dentes brancos do mundo”, da dupla Marcos e Paulo Sérgio Valle, “Telhados de Paris”, do gaúcho Nei Lisboa, e “Ambição”, de Rita Lee, tema escrito em 1977 para a novela “O Astro”, de Janete Clair. “Eu tenho uma relação afetiva profunda com a obra da Rita, com tudo o que já aconteceu, e “Ambição” eu não conhecia, e tenho encontrado poucas pessoas que conheciam, o que é mais legal ainda, porque é uma regravação que tem quase uma cara de inédita, por incrível que pareça. E é uma música linda, uma balada incrível”.
Sobre a descoberta, Zélia Duncan conta como aconteceu o encontro com a música: “Um amigo meu (o jornalista Marcus Preto, a quem Zélia agradece na ficha técnica do CD) me disse assim: “esta música está esperando por você”. Eu ouvi e falei: “Cara, onde é que estava isso?!”“.

No disco, Ambição segue acompanhada por Esporte fino confortável, um samba-funk maroto composto com Chico César, que participa dos vocais. A letra, que fala sobre amizade, é dedicada “para Rita e mais alguns”: “Tô na geladeira… pra sempre? / E aí, amizade, a nossa amizade, como é que se sente?”. Um recado singelo que, apesar de Zélia Duncan afirmar que teve o apoio de Rita Lee antes de aceitar o convite dos irmãos Arnaldo Baptista e Sérgio Dias, soa como um pedido de desculpas. Durante a entrevista, perguntada sobre o período em que conviveu com os Mutantes, Zélia provoca gargalhadas ao revelar: “saí antes de me aborrecer”.
Solar e delicado, imprimindo um colorido inovador, sereno, “Pelo sabor do gesto” é diferente de tudo o que a cantora e compositora já realizou até aqui, sem abandonar a escola pop que a consagrou, 14 anos atrás, quando estourou nas rádios com “Catedral”. Gestos saborosos para serem ouvidos, apreciados, degustados. Um novo capítulo na trajetória de Zélia Duncan.
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