Ela é a responsável pelo surgimento de diversos clássicos da história recente da MPB. Sozinha ou em parceria com outros compositores, como Eduardo Dussek e o irmão Milton Carlos, Isolda deu forma a canções que se tornaram parte da trilha sonora da vida de muita gente, como “Outra vez”, “Um jeito estúpido de te amar”, “Sou eu”, “Tente esquecer”, “De coração pra coração”, entre outras. Porém, sempre preferiu os bastidores aos holofotes.
Com mais de 30 anos de carreira, Isolda finalmente quebra o silêncio e lança seu primeiro CD, “Tudo exatamente assim”. O álbum marca a estreia do selo Toca Disc, que a compositora criou para lançar seus trabalhos, além de outros nomes.
De passagem pelo Rio de Janeiro, a paulistana Isolda recebeu a imprensa em uma coletiva, para falar desta nova etapa de sua carreira.
Lançamento de CD é a realização de um antigo sonho
Interpretar suas canções preferidas, exatamente do jeito que foram criadas. Este é o objetivo de Isolda que, entre as doze faixas do disco, só incluiu apenas uma já conhecida do público: “Outra vez”, que, entre as vozes de Roberto Carlos, Maria Bethânia, Simone, Richard Clayderman, entre outros, chega a invejável marca de 160 gravações.
Durante a entrevista, Isolda revelou histórias de sua composição mais famosa, escrita em 1977 após a morte do irmão, o cantor e compositor Milton Carlos, vítima de um acidente de carro:
A música que eu tenho de maior sucesso é ela. Eu achei legal gravar “Outra vez” do jeito que eu imaginei que um dia ela fosse gravada.
Isolda, que após a morte de Milton chegou a pensar em parar de compor, revela detalhes sobre a época que enviou a canção para o “rei”:
Todo ano eu e Milton mandávamos uma fita pro Roberto (Carlos). E eu mandei, com “Outra vez” e outras quatro, cinco músicas minhas e de meu irmão que ele não conhecia. Nunca imaginei que ele fosse escolher “Outra vez”, a música que era só minha, até porque era longa demais, sem refrão… não era a cara do Roberto. Quando ele gravou, eu pensei: ah, ele gravou por amizade, pra dar uma força, porque a música é só minha, e eu sei que ele é um cara legal, ele sempre foi assim. E a música estourou – conta.
Isolda também relembrou o dia do surgimento da letra:
Em junho, julho (de 1977), eu estava numa noite com amigos, e num daqueles papos “filosóficos” da madrugada, depois de uns uísques e chopes, surgiu a pergunta: “qual foi o maior amor da sua vida?” eu pensei, pensei… e lembrei do meu primeiro namorado, que foi a coisa mais pura, mais simples, e no meu coração foi a maior. Ali mesmo, a melodia começou a vir na minha cabeça. Peguei um guardanapo, pedi ao garçom uma caneta e comecei a escrever. Terminei a música em casa, no dia seguinte.
Fã de Frank Sinatra, Harry Connick, Jr. e Diana Krall, Isolda transportou muito do seu gosto pessoal para o seu disco, que passeia entre o jazz e o formato acústico, sem esquecer o suingue característico da música brasileira, porém fugindo de um apego mais popular, fato totalmente inesperado por quem acompanha o seu trabalho. Um álbum sofisticado, onde Isolda cuidou de cada detalhe, e que levou cerca de um ano pra ficar pronto:
Eu montei um estúdio em casa. Primeiro eu escolhi as músicas e, para cada uma, eu fazia quatro, cinco, seis arranjos diferentes. De repente, eu achava que uma ou outra música estava destoando, e aí trocava por outra. O disco ficou pronto em casa, com teclados, mas assim, nada acústico. Aí, encontrei com o Beto Bertrami, que pediu pra ouvir o disco, e falou: “está pronto”. Mas eu queria com músicos de verdade. Eu queria ouvir as minhas músicas do jeito que eu acho legal, com um tipo de arranjo legal, do jeito que eu queria.
O sonho de Isolda começou a ganhar formas após este encontro com o pianista Beto Bertrami, que reuniu os músicos que ela tanto desejava: Lael Medina (bateria), Aírton Fernandes (contrabaixo), Sílvia Piccin e Richard Armando (metais), Sérgio Casanova (guitarra solo), Alceu Maia (cavaquinho), Luca Bulgarini (violão), Luis Manoel (harmônica), Liliana Bertolini (flauta), M. Jullianny (guitarras e violões) e Steve Kells (bateria).
O time ficou completo quando, além dos músicos e amigos que participaram, se juntaram também seus três filhos: Isadora, que fez parte das fotografias do encarte, Alessandra, que registrou em vídeo todos os momentos da preparação do disco, e Eduardo, que toca contrabaixo na faixa “Voz ativa”, única parceria de Isolda e Milton Carlos presente no disco.
A cantora, com o lançamento do CD, aproveitou para homenagear o irmão:
“Voz ativa” é uma música antiga, do tempo que meu irmão estava vivo. Fiz uma nova roupagem, mudei algumas coisas na segunda parte da letra. “Chorando” é uma música que eu fiz em homenagem ao Milton. É o único chorinho do disco. Ele adorava chorinho, sambas antigos… ele era louco pelo Rio de Janeiro.

O lançamento do CD, que também traz canções feitas em parceria com Eduardo Dussek (“Música e Letra”) e Fhernanda Fernandes (“De minha autoria”), marca também a estreia de Isolda como empresária, com a criação da Toca Disc:
O selo é a realização de outro sonho. Estou fechando com a Sony Music (detentora dos direitos dos LP’s que Milton Carlos lançou nos anos 1970) uma parceria para lançar um box com os três discos do meu irmão, 30 anos após a morte dele. E também estou pensando em outras coisas, outras pessoas.
Perguntada sobre a sensação de ver suas canções nas vozes de outros artistas, Isolda não esconde sua admiração:
Pra mim é como se nunca tivesse acontecido nada antes. Eu fico muito feliz, saio contando pra todo mundo – brinca.
Assim como outras compositoras que soltam a voz para mostrar ao público sua obra, Isolda, sentada à beira da praia do Arpoador, Zona Sul do Rio de Janeiro, é enfática ao afirmar qual é o seu território:
Eu não sou cantora. Eu sou marinheira de primeira viagem como cantora. Nunca fiz aulas de canto, nem tenho uma grande voz. Eu canto o que eu sinto. Eu não tenho nenhuma pretensão de ser cantora: eu sou compositora.
O importante é que, mesmo não se autointitulando cantora, Isolda fez uma ótima estreia. Confira.
Deixe um comentário