Discoteca MPB

Redescobrindo discos e outras histórias.

Discoteca: Emílio Santiago, ‘Aquarela Brasileira’ (Som Livre, 1988)

Capa do LP 'Aquarela Brasileira', de Emílio Santiago, lançado em 1988
Cantor revelado ao grande público no início dos anos 1970, através de um concurso de calouros do programa de Flávio Cavalcanti (1923-1986), Emílio Santiago (1946-2013) já acumulava vários sucessos até meados da década de 80, além do prêmio de melhor intérprete no Festival dos Festivais (TV Globo, 1985), com a canção Elis, Elis.

Mas foi três anos mais tarde que ele caiu, definitivamente, no gosto popular.

Através do LP Aquarela Brasileira, lançado em 1988 pela Som Livre, Emílio Santiago – então com quase vinte anos de carreira – finalmente alcançou o prestígio na qual sua voz e seu talento mereciam. O projeto consistia em uma fórmula simples, até então não muito explorada: reunir sucessos radiofônicos do ano e clássicos da MPB em vários pot-pourris, de forma que não soavam estranhos ao ouvinte, pois havia toda uma relação e razão de ser entre as faixas interligadas.

O lado A da Aquarela era aberto por três sambas-enredo daquele ano, que tinham como tema central o centenário da Abolição da Escravatura: Kizomba, a festa da raça, vencedor do Carnaval de 1988 pela Vila Isabel, vinha acompanhado de 100 anos de liberdade, realidade ou ilusão, tema da Estação Primeira de Mangueira e Lenda carioca, os sonhos do vice-rei, da azul e branco Portela. Veja abaixo trechos de cada samba, da Vila, Mangueira e Portela:

“Vem a Lua de Luanda
Para iluminar a rua
Nossa sede é nossa sede
De que o Apartheid se destrua
Valeu, Valeu Zumbi…”

“Será que já raiou a liberdade
Ou se foi tudo ilusão?
Será, que a lei Áurea tão sonhada
Há tanto tempo assinada
Não foi o fim da escravidão?…”
“Está fazendo um centenário
A Portela em louvação
Voa com a liberdade
A águia e o negro num só coração…”

Em seguida, Emílio trazia para o seu universo Você é linda, canção de Caetano Veloso que abria espaço para Coisas do coração, música de Eduardo Lages e Paulo Sérgio Valle que, na época, era o destaque do LP de Roberto Carlos. Tom Jobim, Vinicius de Moraes e a bossa nova eram reverenciados através das interpretações de Anos dourados e Eu sei que vou te amar. O Rock Brasil, que vivia o seu auge, era representado na reunião de Nada por mim, de Herbert Vianna e Paula Toller, e Fullgás, de Marina Lima e Antônio Cícero.

Independente do estilo, Emílio Santiago dava seu toque pessoal às interpretações, em sua maioria voltadas para um tipo de samba mais romântico. E não só compositores eram relembrados por ele, mas também outros intérpretes, como a amiga Alcione (em Sufoco), Benito di Paula (em Retalhos de cetim), Johnny Alf (em Eu e a brisa) Silvio Cesar (Pra você) e Nelson Gonçalves (Minha rainha).

Já a última faixa do disco fazia uma homenagem à São Paulo, através da combinação entre Ronda, de Paulo Vanzolini, com Sampa, de Caetano Veloso. O mesmo pano de fundo para universos distintos de duas histórias: uma de traição e vingança (“Cena de sangue num bar / da Avenida São João”) e a paixão por uma cidade (“Alguma coisa acontece no meu coração / que só quando cruza a Ipiranga e Avenida São João”).

Fazendo uma análise do disco, é possível constatar que aquele LP era uma forma de mostrar que, apesar da diversidade de gêneros e rótulos – sambas, rocks, baladas e canções pop – quando agrupados transformam-se em uma único elemento, chamado música popular brasileira. A prova disso é a fusão do clássico Aquarela do Brasil, de Ary Barroso – lançado em 1939 – com a toada Bye bye Brasil, de Roberto Menescal e Chico Buarque – de 1980. Momentos diferentes de uma mesma nação que, entre a morena sestrosa de olhar indiferente e o o Brasil que eu vi na TV, indicava que aquela aquarela havia mudado.

Bem-sucedido em todos os sentidos – principalmente por promover a consagração do nome de Emílio Santiago como um dos grandes intérpretes masculinos da MPB – o LP Aquarela Brasileira deu origem a uma série que durou até 1994, ano de lançamento do álbum Aquarela Brasileira 7. Este sucesso também se comprova em números: ao todo, mais de quatro milhões de cópias foram vendidas.

Entre os seis volumes seguintes, a concepção manteve-se fiel ao primeiro disco, assim como o público, que todos os anos aguardava o lançamento de uma “nova aquarela” e ficou órfão da coleção, relembrada anos mais tarde por Emílio Santiago no CD e DVD ao vivo O melhor das Aquarelas. Realmente inesquecível.

Contracapa do LP 'Aquarela Brasileira', de Emílio Santiago, lançado em 1988
A contracapa do LP

Músicas:
Kizomba, a festa da raça (Jonas – Rodolpho – Luiz Carlos da Vila)
100 anos de liberdade, realidade ou ilusão (Hélio Turco – Jurandir – Alvinho)
Lenda carioca, os sonhos do vice-rei (Neném – Mauro Silva – Isaac – Luizinho – Carlinhos Madureira)
Você é linda (Caetano Veloso)
Coisas do coração (Eduardo Lages – Paulo Sérgio Valle)
Anos dourados (Tom Jobim)
Eu sei que vou te amar (Tom Jobim -Vinicius de Moraes)
Aquarela do Brasil (Ary Barroso)
Bye bye Brasil (Roberto Menescal – Chico Buarque)
Minha rainha (Lourenço – Rita Ribeiro)
Retalhos de cetim (Benito di Paula)
Sufoco (Chico da Silva – Antônio José)
Alvorecer (Délcio Carvalho – Dona Ivone Lara)
Nada por mim (Paula Toller – Herbert Vianna)
Fullgás (Marina Lima – Antônio Cícero)
Eu e a brisa (Johnny Alf)
Pra você (Silvio César)
Ronda (Paulo Vanzolini)
Sampa (Caetano Veloso)

Comentários

8 respostas para “Discoteca: Emílio Santiago, ‘Aquarela Brasileira’ (Som Livre, 1988)”

  1. Avatar de HÉLIO MACEDO FILHO
    HÉLIO MACEDO FILHO

    Agradeço as valiosas informações, parabéns pelo conteúdo das reportagens.
    Gostaria de obter a letra dsa Música "ELIS, ELIS"

  2. Avatar de Amanda
    Amanda

    escrava melhor as músicas para que possamos entender pois esa letrinhas são pequenas de mais

  3. Avatar de amanda
    amanda

    escreva a letra da música aquarela por favor me desculpe e parabéns

  4. Avatar de Mariana
    Mariana

    bobagem
    eas letras estao do tamanho certo

  5. Avatar de lena souza
    lena souza

    gostaria de obter letras de "Paixão" de
    Kleiton e Kleidir e Canteiros com Raimundo Fagner.

  6. Avatar de Dolores
    Dolores

    Como sou fã incondicional do Emílio Santiago, tudo que iz respeito ao cantor me fascina. Gostaria de aproveitar a oportunidade para pedir, caso isso fosr possível, a relação de TODAS as músicas gravadas por ele, para que eu possa copendiar e ter TODAS em meu arquivo de músicas prediletas. Desde já agradço

  7. Avatar de francarlos.
    francarlos.

    eu gostaria de receber a letra e a cifra da música elis elis que o emílio santiago cantou no festival da canção da rede globo no ano de 1985.

  8. Avatar de jaqueline
    jaqueline

    e lindo

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